A Citânia de Santa Luzia – Viana do Castelo | Uma visita…

Citânia de Santa Luzia - Viana do Castelo

A Citânia de Santa Luzia é um notável exemplar de um povoado fortificado do Noroeste Peninsular, pela sua dimensão, planeamento urbanístico, tipologia das construções e carácter defensivo.

Situado em Viana do Castelo, na coroa do Monte de Santa Luzia, este povoado fortificado de tipo proto-urbano, com ocupação continua entre os períodos da Idade do Ferro e Romanização, gozava de uma posição geoestratégica privilegiada.

Com um vasto ângulo de visibilidade que alcança o estuário e foz do Rio Lima, bem como a área costeira do Atlântico, possibilitava condições únicas de defesa, controlo dos caminhos, vales, de navegação marítima e fluvial.

As ruínas, também designadas por "Cidade Velha de Santa Luzia", são conhecidas pelo menos desde o século XVII.

As primeiras escavações, levadas a cabo por Possidónio da Silva, datam de 1876, mas o conjunto urbanístico e arquitetónico visível atualmente deve-se aos trabalhos arqueológicos efetuados em 1902 por Albano Belino.

Da área total da Citânia encontra-se apenas a descoberto cerca de um terço, tendo sido destruída uma parte significativa do povoado aquando da construção do Hotel de Santa Luzia e das vias de acesso.

As habitações

As estruturas habitacionais reconhecidas encontram-se maioritariamente organizadas em bairros ou quarteirões, demarcados por muros divisórios e caminhos de circulação definidos, sendo alguns lajeados.

As habitações visíveis são de planta circular, com ou sem vestíbulo, elípticas e retangulares.

As entradas das casas estão geralmente orientadas para Sudoeste-Sudeste, coincidindo com a pendente geral do terreno, de modo a protegê-las das águas pluviais e dos ventos de nortada.

O piso mais comum das habitações é o solo natural, às vezes aproveitando a própria rocha, ou um pavimento de terra argilosa batida ou saibro.

As lareiras detectadas, aliás como as demais construções e espaços, parecem condicionadas pelos acidentes do terreno.

Os fornos surgem em diferentes áreas do povoado, das casas ou alpendres, confirmando uma componente económica agropastoril sem uma predefinição clara destes espaços no ordenamento da comunidade.

Casa com banco circular

Casa com base de poste para sustentação do telhado

Estrutura defensiva

Um importante elemento, de resto comum a outros povoados fortificados da Idade do Ferro como Briteiros ou a Cividade de Âncora, são as preocupações defensivas.

Santa Luzia possuía três linhas de muralhas servidas por um caminho de ronda, reforçadas por fortes torreões e dois fossos que asseguravam a defesa da povoação.

O acesso às muralhas era feito por uma escadaria - ainda presente na face interna da muralha.

Parece certo que os traçados dos elementos defensivos foram sofrendo alterações, obedecendo a diferentes estratégias de ocupação, e tiveram em conta a morfologia do terreno.

No extremo Norte, onde o declive é menos acentuado e a escalada ao povoado mais fácil, a muralha foi reforçada em espessura por um torreão.

Atualmente resta apenas uma parte da muralha interior, visível em cerca de oitenta metros do lado Norte, e a cerca ovalada da área da acrópole.

Para além das condições de defesa, a escolha do local e organização do espaço obedecia a fatores de ordem económica.

Escada de acesso à primeira muralha

Vista dos dois panos de muralha

Vista do torreão e da segunda muralha

Aproveitamento dos recursos naturais

O mapa de distribuição destes povoados no Noroeste Peninsular regista uma implantação especialmente intensa em áreas favoráveis à prática de atividades agropecuárias e ao aproveitamento dos recursos marítimos e fluviais.

Os hábitos alimentares e o aproveitamento dos recursos naturais por parte destes povos encontram-se registados em vários textos de autores antigos, nomeadamente de Estrabão.

As descrições e os vestígios existentes dos materiais e instrumentos agrícolas pré-romanos apontam para uma economia predominantemente pastoril e agrícola com a recolecção de frutos naturais como castanhas ou bolotas.

As atividades agropecuárias impunham necessidades complementares, ao nível do fabrico de instrumentos, utensílios de trabalho e armamento, necessárias ao trabalho e defesa dos povoados.

Neste contexto, desenvolvem-se em paralelo atividades artesanais como a cerâmica, a metalurgia, a fiação e tecelagem, complementando o quadro económico destas comunidades.

Encanamento

Ocupação romana

À semelhança de inúmeros castros desta área geográfica, também a Citânia de Santa Luzia regista claramente vestígios da ocupação romana, nomeadamente na tipologia de algumas habitações de planta retangular, mais amplas e arejadas, no surgimento de novos quarteirões, bem como no traçado e abertura de arruamentos perpendiculares que oferecem uma nova racionalidade no ordenamento do espaço do povoado.

O espólio encontrado nesta Citânia revela algumas características da cultura material destes povoados bem como da presença romana, nomeadamente em objectos de adorno com fíbulas, alfinetes de cabelo com ornamentações e contas de bronze, em espólio cerâmico representado sobretudo por ânforas (asas, fundos e bordos) e uma moeda em prata com a efígie de Augusto coroado de loiros.

Acesso lajeado a bairro habitacional

Acrópole

Bairro construído com aparelho helicoidal

Planta geral da Citânia de Santa Luzia

Fonte: folheto editado pelo IPPAR (abril 2001)

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