Guia do percurso pedestre: Galegos da Serra até Arnal (PN Alvão)
Este percurso
pedestre tem a duração total aproximada de 3 horas
O-1 (ver
mapa abaixo)
Como por
certo já repararam nesta primeira parte do percurso quase não há solo. Por toda
a parte aflora o granito biotítico. A erosão que o caracteriza tem como
resultado a "formação de bolas".
Repare em
frente, nas encostas escarpadas, típicas das escarpas de falha.
Do lado
esquerdo do caminho observa-se um povoado misto de pinheiros bravos (espécie
exótica introduzida) e de carvalhos (espécies autóctones).
Observam-se
aves características dos bosques:
estrelinha-de-cabeça listada, chapim-azul.
Provavelmente
encontrar-se-á um pequeno charco onde se observarão alguns anfíbios (rã-ibérica e tritões).
A cobertura vegetal dominante é formada
por matos pequenos e rasteiros compostos por torga, e carqueja, sargaço, urze,
tojo, e também feto ordinário.
A paisagem que se vê é uma paisagem construída e trabalhada.
Desde há séculos o homem
marca, e organiza o território com a sua presença: - rasga caminhos, levanta
muros e socalcos (à sua esquerda), exerce acção sobre o solo através da
agricultura, do pastoreio, das queimadas, constrói o abrigo para se defender
das inclemências do clima.
A maneira
como o fazia era consequência de um delicado equilíbrio socioeconómico; estas
marcas são consequência lógica desse equilíbrio, hoje perdido ou em vias de
alteração.
Aspecto de um carvalhal com sub-bosque de urgueiras |
1-2
No início
desta parte do percurso encontram um moinho de rodizio horizontal como são
quase todos nesta zona. É equipamento fundamental para as populações e um bom
exemplo de integração na paisagem. Utilizando a água como força motriz,
transforma o cereal em farinha.
Repare
nalgumas características da arquitectura
popular: a estrita adequação da forma à função, o uso de materiais locais -
а pedra, a madeira – e a relação de escala estabelecida com o local
Continuando
até à aldeia de Galegos da Serra, repare
nos sulcos deixados na rocha do caminho, ao longo de séculos, pelos rodados dos
carros de bois.
Repare
como os muros são parte importantíssima da paisagem, e como da acção do Homem
pode resultar uma paisagem equilibrada. Alguns muros são autênticos jardins
rochosos exibindo grande variedade de flores silvestres.
Nas
encostas das ribeiras das Carmendas
e de Arnal assinalam-se carvalhais espontâneos.
Podem-se encontrar também pinheiros bravos e castanheiros. No sub-bosque encontramos
também giestas.
Habitam
estes espaços os chapins, o pisco-de-peito-ruivo e o melro.
E depois
desta subida avistamos a aldeia.
Quando o homem
da montanha encontrou a terra e a água instalou-se da forma mais conveniente.
Nasceu a aldeia e em seu redor "edificou" os campos. De forma
habilidosa, pedra sobre pedra, construiu socalcos de terra fértil onde faz a
sua agricultura.
Urze (queiroga) em flor junto a carqueija |
Será que
conseguimos descobrir o que se fez?!
Num socalco está a erva (ferra) bem regada, para alimentar os animais!
Noutro já estão o milho que vai servir para fazer o pão, juntamente com o centeio, que no Inverno está verdinho-erva e rasteiro já crescido em Maio, e de espiga ao vento começa a ser pintado cor-de-oiro pelo sol, até que venha a ceifa e seja finalmente cortado.
Lendas da Serra do Alvão
2-3
Está na
aldeia de Galegos da Serra.
Observe as
características do povoamento. As construções agrupam-se, concentram-se,
ocupando quase sempre terrenos não passíveis de serem agricultados.
As construções
tradicionais, variando embora as formas, têm sempre características homogéneas,
que advêm do uso das mesmas técnicas de construção, dos mesmos problemas.
Repare no
número e nas dimensões dos vãos - portas e janelas – são sempre poucos e de
pequenas dimensões de modo a reduzirem ao máximo as transferências térmicas
entre o interior e exterior da habitação.
É notória
a profunda alteração do granito na zona, devido à intensa fracturação.
Ao sair da
aldeia repare que a cobertura florestal é muito reduzida e que os matos compostos
por tojo, urgueira, sargaço são em maior extensão.
Esteja
atento ao canto da cotovia ou do cartaxo-preto.
Uma ou
outra lagartixa-do-mato pode passar pois estes espaços são delas e você é um
intruso.
Mas outros
animais há, igualmente muito resistentes, que se deslocam em grupos, guardados
por um pastor e que se alimentam apenas do que encontram pelos montes. Já adivinharam!
A pastorícia da cabra do Alvão |
São as cabras... pois saibam que elas pastam pelas zonas como a que atravessam e que chegam a percorrer mais de 10 a 15 km/dia em busca de alimento. Todos os anos têm um cabrito às vezes dois) que é criado e vendido, sendo fonte exclusiva de rendimento do pastor.
- Sugestão: O Fumeiro do Parque Natural do Alvão
3-4
Chegou à Escola Ecológica.
Atingiu a
cota dos 1.000 metros. Daqui pode observar lá ao fundo a cidade [Vila Real]!!!
À esquerda
outra aldeia, escondida! Arnal, e ao fundo dela um longo vale de campos
verdejantes.
Em frente,
temos o maciço granodiorítico conhecido por "Catedral de Arnal" ou denominado pelo povo "Cabeço do Reco", em que é nítida a
fracturação em várias direcções.
Na descida, repare como, por vezes, a
camada de solo é mais espessa. Em
resultado da profunda alteração da rocha, o que facilita maior retenção da humidade no solo.
Ao longe,
numa fraga como que em escorrência, vêem-se algumas manchas onde o granito está
avermelhado e se desfaz - é o resultado da alteração química da rocha, rica em
ferro.
Esta é uma
área de matos rasteiros com tojos, urgueira e sargaço em que predominam
afloramentos rochosos.
As aves características
deste biótopo são o rabirruivo-preto, o estorninho-preto, o cuco canoro, as
cotovias, os cartaxos e a carriça.
Apenas as
escute ou esteja atento aos seus voos. Não as perturbe!
Cartaxo-preto |
Repare na aldeia de Arnal que se situa na
proximidade imediata dos terrenos de cultivo.
Todas as
casas tradicionais foram construídas em terrenos rochosos e não em solo arável,
para o poupar já que é escasso.
Repare no
uso sistemático dos materiais que o próprio local oferece: a pedra para as paredes,
o xisto e o colmo para as coberturas, a madeira para as portas, janelas e
estruturas de armação das coberturas.
Alguns dos
espigueiros são de um tipo diferente
dos da aldeia de Galegos da Serra,
sendo a madeira o principal material usado.
Aproveitem a oportunidade para visitarem um moinho que talvez esteja a moer.
- Sugestão:
O Artesanato do Parque Natural do Alvão
4-0
Seguindo a
estrada, e deixando para trás Arnal,
irá até ao ponto do início do percurso.
À nossa
esquerda temos o longo vale de campos verdejantes, emoldurados pelo majestoso
granito.
Estes
campos são regados no Inverno para os proteger (rega de lima), não vá o gelo destruí-los.
Têm erva e feno. São os lameiros!
Neles se
alimentam as vacas e as suas crias durante o Inverno e parte da Primavera. Depois
os animais vão para o monte e a erva cresce para dar feno.
Campos de centeio |
Estes animais
são muito importantes para estes habitantes. Dão uma cria por ano, fazem os
trabalhos pesados da lavoura (lavram, gradam, etc...), e ainda produzem
estrumes que são utilizados na agricultura.
Nesta que
é a última parte do vosso percurso aproveitem e olhem tudo o que ficou para
trás...
Lembram-se?
Os lameiros, o centeio, o milho, os Maroneses...
O homem da Montanha.
Sugestões e recomendações
Recorde-se
que «passear na Natureza» é algo de
muito agradável, mas tenha em conta as seguintes sugestões:
- Nunca vá só.
- Leve calçado resistente e sempre um bom
agasalho.
- Se possui bússola e/ou binóculos leve-os.
- Leve consigo "vontade para escutar os sons
da Natureza" e deixe em casa o rádio.
- Se tenciona demorar-se, leve alguns alimentos
e água.
- No Verão escolha o período mais fresco do dia
e no Inverno tenha em atenção que anoitece mais cedo.
- Ajude a manter todas as águas límpidas.
- Circule sem perturbar os trabalhos do campo
e a vida das aldeias.
E ainda…
- Se ao Parque vai de viagem não colha nada da
paisagem.
- O lixo que eu fizer de volta o irei trazer.
- Campismo civilizado só em local a isso
destinado.
- Os muros e as cancelas tenha cuidado com
elas.
- A Natureza deve preservar, fazer fogo, nem
pensar
Fonte:
desdobrável do Parque Natural do Alvão (texto editado e adaptado)